quarta-feira, 26 de novembro de 2008

SETE VIDAS

PC Sempre falo que terapia faz bem pra todo mundo. Mas algumas sessões nem sempre são fáceis. Na época em que eu fazia, ao longo de meus 20 ou 21 anos, o terapeuta coçador de saco – literalmente, o dele, enquanto conversávamos - disse uma coisa que chamou minha atenção após tocar em um assunto bastante estranho, porém com resultado surpreendente.

Alguma pergunta foi feita e minha resposta partiu sobre o susto que levei ao assistir ao vivo um treino de Fórmula 1 onde o piloto Jean Alesi, que na época corria pela equipe de Alain Prost, quase voou perto das arquibancadas de Interlagos após perder sua asa traseira na reta dos boxes.

A cena não foi mostrada na tv, já que o treino era o livre da manhã, antes do almoço e qualify. Mas ver e ouvir ao vivo o piloto jogando a sexta marcha e de repente embaralhar o motor sem saber se freia, fecha os olhos ou reza enquanto aquela víbora azul apontava para algum lado sem controle na curva do café, a mais ou menos 290 por hora, não foi tão simples assim. Até porque, ele poderia vir direto para muro onde eu estava. Por sorte, Alesi segurou a máquina. E o terapeuta traduziu a cena como “você sentiu que há vida por trás daquilo tudo”.

Para dizer a verdade, quando moleque sonhador brincando de carrinhos no tapete de casa, os riscos nem chegam perto da mente. E mesmo depois de grande, quando a brincadeira começa a ficar real dentro dos circuitos, nem sempre a gente tem noção do que literalmente pode acontecer.

O meu primeiro grande susto nas pistas foi durante uma prova de kart na Granja Viana, onde entre os moleques de capacetes grandes estava Nelson Ângelo Piquet. Em um momento comum, situados em uma das áreas de escape do kartódromo, eu e o fotógrafo que me colocou pra entro desse mundo estranho mirava o menino que pagava seu pão. Ou seja, as fotos viravam trocados de sobrevivência. E sem tempo para ver direito quem passava ao nosso lado, acompanhando o giro do moleque pelo circuito, sentimos alguma coisa espirrar em nossas pernas, antes de olhar para trás e ver um kart socado nos pneus. O bicho passou tão perto de nós que a terra misturada com britas foi metralhada em nossas canelas. Sem tempo pra nada, olhamos um para o outro e continuamos ali, sem medo e sem noção de que podíamos ser atropelados num piscar de olhos.

Quando David Coulthard quase morreu em um acidente aéreo, onde ele e sua ex-noiva (ou namorada?) brasileira foram os únicos ilesos, me deparei com uma reação estranhamente chata de que o piloto também é gente. Foi mais ou menos o fato lá de cima, quando o terapeuta disse haver vida dentro daquilo tudo.

Mark Webber que diga! O australiano recordista em acidentes fantásticos por onde passou (o vôo de Le Mans, a porrada em Spa Francorchamps na Fórmula 3000 e o choque contra o muro de Interlagos em 2003) agora entrou para história com o acidente que sofreu neste último sábado, durante prova de multidisciplinar de ciclismo e outras competições que o próprio promovia na Ilha da Tasmânia.

Depois da colocação de um pino conforme fratura em uma das pernas, dizem agora que ele está bem e deve correr normalmente em 2009.

Acontece que o portal UOL, que noticiou o fato “em cima do lance”, escorregou tragicamente no exagero. Vejam isto: “O piloto da equipe RedBul sofreu diversas fraturas nos braços e nas pernas ao ser atropelado por um carro...

Talvez aquela redação precise de uma terapia em grupo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Rafa...
Realmente algumas vezes nós não conseguimos fazer uma mega análise naquilo que gostamos e que estamos presenciando... seu psicanalista tinha razão...
As vezes nós agimos sem imaginar a possível reação, como por exemplo o se quase atropelamento...
Bem, gostei da matéria porque é simplesmente impressionante como você consegue escrever sobre diversos assuntos mas sempre envolvendo automobilismo... parabéns por essa flexibilidade e percepção das coisas.
Eu já fiz N vezes terapia e gostava do que ouvia... algumas coisas não gostava de ouvir, porque fugia da minha óptica e viver de faz de conta era melhor, menos dolorido do que ver a verdade!
Mas, é isso aí, estou hiper contente porque vou passear no domingo em Interlagos... uhuuuuu
beijo,

Anônimo disse...

Pô cara tu tem é história para contar viu! Automobilismo é sim esporte de risco.Lembro de algumas passagens de provas automobilisticas quando o carro escapava ou batia voava sempre pedaços na arquibancada e feria e matava alguns espectadores.É o risco que nós corremos para estar perto de nossas paixões!