terça-feira, 30 de março de 2010

NOMES QUE FAZEM A DIFERENÇA PARTE 05

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CEO COSWORTH F1

Existe realmente um laço entre grandes nomes da categoria maior do automobilismo mundial. E o brasileiro fã do esporte arquiva com carinho na memória algumas passagens de injeção técnica e mudanças aprimoradas durante todos estes anos de Fórmula 1.

Não há como não se esquecer da equipe Tyrrel, que providenciou o modelo P34 com suas seis rodas fazendo valer aquilo que alguns chamavam de impossível. Como também não existe alguém que não tenha ouvido falar em Gilles Villeneuve numa roda de amigos. Então, por estas e outras, nasceu este espaço pautado como NOMES QUE FAZEM A DIFERENÇA, com entrevistas como esta aqui.

Eu, quando era mais jovem, adorava ler na íntegra, coisas deste tipo. Mas como muitos jornalistas só escrevem por dinheiro, o milagre da Internet me proporcionou transmitir a quem gosta de corridas de carro informações que, agora adulto, posso conquistar em detalhes e compartilhar com vocês.

Desta vez com orgulho ainda maior, um repasse inédito sobre a COSWORTH, empresa 13 vezes campeã mundial de Fórmula 1 no quesito construtores. E agora, como nunca antes, injeta a formatação dos motores em quatro equipes do campeonato. Três delas onde correm os brasileiros Rubens Barrichello (Williams), Lucas Di Grassi (Virgin) e Bruno Senna (HRT).


No avião...

A viagem de Mark Gallagher com destino a Melbourne, cidade sede do GP australiano realizado neste domingo, tinha além do fator descanso e um preparo básico para o fuso horário contrário, o compromisso de responder algumas questões exclusivas que eu havia enviado ao RP da empresa sobre algumas coisas estranhas, a nova fase da categoria e a investida da Cosworth nesta brincadeira toda.

E como gerente geral da Cosworth divisão Fórmula 1 - Unidade de Negócios - Gallagher fez questão de cumprir este compromisso e relatar aqui pra gente tudo aquilo que rolou até hoje com este nome que faz – e muito – a diferença nas pistas.

Como vocês já devem saber minha expectativa de voltar a ver gente que trabalha com automobilismo - e não com marcas de carros que ficam parados no trânsito das grandes cidades - retornando ao circo da Fórmula 1 era bastante intensa. Não que o passado seja melhor que o presente, mas ter de volta engenheiros, desenhistas e equipe técnica que nasceu para empurrar carros de corrida é, de fato, super interessante. E o retorno da Cosworth foi, em parte, fácil de entender. “Devido ao fato de ver três companhias fabricantes de automóveis deixando a categoria em apenas 18 meses (Honda, BMW e Toyota), aliando o fator de que a Fórmula 1 precisava ter novas equipes no grid com motores de confiança e acessíveis, propomos voltar através de nossos resultados obtidos na história. Afinal, a nova era gira em torno da eficiência, tecnologia e economia interna. Por sermos uma empresa altamente eficiente, que pode produzir motores de corrida por uma fração do custo ao construtor (equipe), enxergamos que este seria o momento perfeito para a Cosworth voltar a participar de tudo isso”.

Com sua modéstia, Mark Gallagher ainda menciona: “Em vitórias na Fórmula 1, perdemos apenas para a Ferrari!”. E é verdade. No currículo desta companhia inglesa os números são inegavelmente inquestionáveis. Foram, até o início da atual temporada, 176 vitórias, 458 pódios, 135 pole-positions, 145 voltas mais rápidas, 13 títulos de construtores e 10 de pilotos. E isto só na Fórmula 1, sem anunciar participações em categorias como Nascar, Fórmula Indy, entre outras.

“Nossa empresa gira em torno da engenharia eletrônica. Enquanto estivemos fora da Fórmula 1 trabalhamos na construção aeroespacial (motores para aeronaves de defesa e modelos UAV, ou seja, sem tripulação presente), além de veículos terrestres e marinhos. Também fornecemos sistemas de registros para a Copa da Américas de Corridas Marítimas e iates com turbinas eólicas. Então podemos dizer que não somos uma empresa de fabricação de motores, mas um grupo de engenharia com alta performance, que utiliza o nível da Fórmula 1 para se destacar em outros mercados contribuintes”.

Perguntado sobre a parceria com os novos times e o trabalho desenvolvido na Williams, única equipe “pronta” na categoria, Gallagher confessa a igualdade dos contratos. “Primeiramente recebemos um comunicado da FIA perguntando se estávamos dispostos a fornecer motores com menor custo e de ponta. Então, após circunstâncias burocráticas, acertamos contratos idênticos para os times, incluindo a Williams. Aliás, todas elas recebem exatamente o mesmo produto, com os evidentes fatores também idênticos no que diz respeito às exigências do cliente. Ou seja (a) garantia (b) concorrência (c) motores confiáveis e (d) preços acessíveis”.

Ainda no contraste fabricantes de automóveis versus automobilismo segmentado, Gallagher foi mais longe. “Os fabricantes que estiveram na Fórmula 1 não foram determinados a continuar na Fórmula 1 e nos dando assim a chance fornecer a solução ideal”.

Hoje a empresa conta com 350 funcionários em tempo integral de trabalho, com cinco sedes espalhadas entre Estados Unidos (02) Reino Unido (02) e Índia (01). “Estamos experimentando o crescimento de 30% nos negócios, por ano, desde 2008, com a certeza de que nossa engenharia é promissora. Apesar de ser o direcionamento mais emocionante para nós, apenas 35% dos trabalhos estão envolvidos na Fórmula 1 pois temos os outros segmentos (Aeroespaço e Energia) como foco principal da marca”, diz. “Nossos empreendimentos de pequenos motores para aeronaves a diesel criaram uma oportunidade significativa para Cosworth, enquanto o nosso fornecimento de sistemas de previsão de dados para turbinas eólicas (que oferece ao operador informações sobre chances significativas para um futuro problema com a turbina) é outra área de alto crescimento".


O vai e vêm das coisas...

Quando a FIA colocou suas propostas em pauta mencionando querer ter apenas um fornecedor de motores para a atual temporada, antes de ser engolida pelas equipes que ameaçaram deixar a categoria, a Cosworth entrou na brincadeira do “deixa eu”, agregando, é claro, uma oportunidade imensa. Mas como não aconteceu a morte do tradicional campeonato e o nascimento de uma competição paralela, curvou-se a chance de empurrar os novos times e fazer valer a continuidade da história por mais alguns anos na categoria. História esta que tem peso na memória do esporte.

A empresa ficou famosa pela criação do lendário motor DFV (reprodução), que empurrou os monopostos da Fórmula 1 nas décadas de 60 e 70, estreando com a espetacular vitória de Jim Clark no modelo Lotus 49 durante o Grande Prêmio da Holanda, em Zandwoort. Com o passar do tempo e um trabalho mais enxuto, porém mais atraente na competência técnica, a marca retornou a categoria em 2006, fornecendo motores para equipes como a Williams.

Mas foi a Ford que se destacou com o nome que, dentro de algum estranho contrato, nominou os motores de muitos times entre as décadas de 80 e 90, incluindo o primeiro título de Michael Schumacher na Fórmula 1, em 1994, com seu Benetton Ford Cosworth.

O recente modelo está baseado nas últimas realizações da empresa trabalhadas em 2006, permitindo ao CA2010 uma oferta confiável para seus quatros clientes. São 4.127 componentes diferentes dentro de uma só máquina, com projeto chefiado pelo diretor técnico Bruce Wood e responsabilidade prática de Dave Gudd, além do desenvolvimento de James Allen.

O mais emocionante disso tudo é que hoje a Cosworth é a única empresa que fabrica, exclusivamente, motores de Fórmula 1 em sua divisão esportiva. Afinal, até mesmo a Ferrari ou Mercedes-Benz tem lá seus pitacos entre paredes que dividem técnicos de produtos para rua com a mão-de-obra direta com a Fórmula 1.

É como comparar um restaurante que, em seu bastidor, também cria receitas de ração animal ... Uma coisa assim, nada a ver com a outra.


Detalhes metálicos do motor 2010

COSWORTH CA 2010
Motor 4 tempos alternativos de pistão, aspirado
08 cilindros em configuração V com ângulo de 90 graus
Construção em bloco de liga de alumínio, com cabeça forjada, pistões e virabrequim de aço.
32 válvulas com molas pneumáticas
Velocidade máxima limitada a 18.000 rpm
2.400 cc
95 kg
Diâmetro do cilindro: Menos de 98 milímetros
08 injetores fornecidos por um sistema pressurizado a 100bar
Ignição: Magneti Marelli – 08 bobinas de ignição de cada vela de condução única
Lubrificação com cárter seco
Velas: Champion